mardi 13 novembre 2012

Vamos la falar a sério por Jorge Valadas

O humor é sempre uma maneira de arejar o espirito critico.
Sobretudo quando este se fecha em quartos bolorentos e de ar viciado
Uma amiga envia-me esta novidade, que circula, suponho eu, nas redes sociais…


Não se esqueça. Entra em vigor no final do ano.
Para começar o Governo terá de imprimir 9 milhões… depois se verá…
O Governo já criou um novo cartão, não sei se conhecem, aí vai ….

Diz que dá acesso a vários serviços de luxo…
·       Dormida em albergues;
·       Pagamento das taxas de saúde em suaves prestações mensais;
·       Roupa e alimentação no banco alimentar;
·       Isenção de impostos que não existam;
·       Momentos de convívio e lazer nos jardins públicos;
·       Entre outros…

Esta certo até certo ponto, porque há aqui uma simplificaçao abusiva. 
Uma questao de numeros. Nove milões é capaz de ser um exagero.  Um exagero que exprime uma questão politica. Porque neste jardim (queimado, abandonado, cimentado e seco) à beira mar plantado, há apesar de tudo uns bons milhares que não vão ter direito a cartão. Estou a pensar na burguesia portuguesa, velhos e novos ricos, mafias financeiras, especulativas e outras, castas e classes politicas, militares, burocracias improdutivas que vão sugando o  eterno « bom povo portugês ».
Onde eu quero chegar é à ideia da Rosa, uma velha amiga nossa, que dizia há uns anos já : «O inimigo esta entre nós ». É salutar lembrá-lo nestes dias em que sobe das ruas e praças o barulho dos gritos contra aquela triste senhora alemâ vestida de pijama (Made in China, by the way) que vem visitar o seu filho adoptivo Gaspalazar e comparsas.  

Mas que parvoíce ! A importância espetacular que se dá a esta mulher é descabida. Há um espetaculo, montado e alimentado pelos senhores locais do poder, que permite desviar a cólera popular. Os eternos culpados do estrangeiro ! E é uma bênção para os outros tristes da historia, os paralíticos da politica moderna, a tal esquerda cujo último comércio possível é a venda dos valores do nacionalismo e do patriotismo saloio.  Como diziam os indignados espanhóis: « A esquerda é ao fundo do corredor, à direita ». Não deixa de ser interessante sublinhar que, em Portugal, estes valores são veiculados antes de mais por certa gente de esquerda. O que, por si só, é uma excelente razão par não se ser de esquerda — que é uma variante da direita e viceversa!

Como tem sido sublinhado neste blog pelo Miguel Serras Pereira e pelos comentários do João Bernardo, entre outros, há que recusar, romper com, ultrapassar toda a reflexão contaminada por semelhantes valores. Esse espírito crítico, que nos permite continuar vivos e perceber de onde vimos e para onde nos levam, exige essa atitude.   

Para o chamado cidadão médio, esta orientaçao nacionalista parece o caminho mais facil de sair do túnel do empobrecimento onde o fecharam. Erro grave. Por um lado, porque esta ideia, como muitas outras, já nao se adapta à situação presente. O país já não existe, não tem economia viavel, foi destruído e pilhado pelos grandes grupos capitalistas europeus com a cumplicidade bem remunerada da classe capitalista local. Que foi de férias para as offshore, para o Brasil e para Africa. Um nacionalismo sem economia e de campos de golf é a mesma coisa que uma emigração que não encontra trabalho. Mais uma dessas ideias velhas que estão nas prateleiras e em que o cidadão pega, pensando que é eficaz quando a verdade é que é inutil. Mas também — e é aqui que a coisa é mais grave e compromete os que a defendem — este regresso à dita « soberania nacional » implicará necessariamente, não só mais miséria, mas também o regresso do autoritarismo por parte do poder politico. Um novo totalitarismo é o preço da mísera « independência nacional ». Fico à espera da prova do contrario.

E se, em alternativa, optássemos por propostas que desenvolvam a autonomia, a criatividade e a solidariedade dos que sofrem e são vítimas desta situaçao ? Que criem laços de  internacionalismo, entre as sociedades europeias. Como fazem os que lutam  aí mesmo ao lado, em Córdova, em Sevilha, em Mérida, em Vigo. Acompanhadas por uma discussão aberta sobre as condições criadas pelo sistema : quem emprestou, a quem emprestou, para onde foram os fundos financeiros, qual é o peso dos juros já pagos,  entre muitas outras questões. Que permitam desmistificar  o fetiche da « Dívida », revelar a seu conteúdo de classe, perceber o que se passa. Enfim voltar a ver tudo isto como o problema de um sistema, uma organização social, que têm nome — o capitalismo. E que deixem os moralismos dos malandros dos maus políticos (como se houvesse bons) para as homilias da Páscoa. Discursos repetitivos que se estão a tornar monótonos e ridículos.
Os outros, os que insistem em chorar por pátrias, bandeiras e independências, que deixem de ler blogs e de perder tempo em manifestações, que se alistem na Guarda Republicana e nas Forças Armadas prontos para defender a pátria do BCP e do Millennium. Durante os primeiros mese serão pagos, depois já não garanto nada…